quinta-feira, 25 de novembro de 2010

24/11/2010

24 de Novembro. As feridas reabrem-se. O meu muro de indiferença é derrubado e sou invadida por memórias amargas que me dilaceram o coração. Sinto-me inútil, fraca, muito pequenina. Lembrar-me de ti é hoje a minha mais dolorosa fraqueza; equivale ao mais bruto empurrão para o mais vergonhoso recôndito da minha consciência. Tento ver televisão ou ouvir música na ânsia de me desfazer destes pensamentos. É ridículo, pois tudo me faz lembrar de ti.
Encaminho-me para a varanda, descalça e em bicos-de-pés, desesperada por conseguir diluir o meu habitual negativismo. Sou recebida pela Lua que, envolvida na neblina e reflectindo para mim o seu brilho prateado, não se incomoda com a minha presença. É uma velha amiga minha, a Lua. Por pertencer ao meu refúgio, chego a pensar que me conhece melhor do que ninguém.
A minha mente lateja e as minha têmporas palpitam. Gostava que, por vezes, o meu cérebro fosse capaz de parar e me dar um bocadinho de descanso. Apesar de toda a minha relutância, a panóplia de memórias teima em invadir a minha mente e em diminuir-me. Por fim, caio no abismo que é em pensar em ti e o pior é que ainda não descobri o caminho para trepar de novo a colina. Penso em ti e penso em nós. Nós... Nós nunca foi uma escolha ou opção. Unia-nos, fortalecia-nos e amparava-me as quedas. Nós tornava-me mais viva, mais sensível, mais humana; por isso, nós turvava-me a visão. E a minha visão míope fazia-me amar-te, pois quanto mais lúcido o Homem está, menos é capaz de sentir.
E agora que é o fim e que o mundo não me podia parecer mais nítido e cinzento, vejo-me aliciada pela tentação de desistir. Desistir demonstra sempre covardia, mas é também a mais fácil e rápida das escolhas. O problema é que o nós não me deixa ceder, meu amor. É demasiado astuto. Quando menos espero, sussura-me " Olha para o teu coração Catarina. O que vês? Não te vês a ti, vês-me a mim".

3 comentários:

  1. Tão intensas palavras apertaram-me o coração e, tal como a ti, fizeram-me recordar todas umas vivências do passado... O tempo passa, é verdade... O tempo cura tudo, talvez sim, talvez não. A verdade é que as feridas ficam ali, por mais capacidade que tenhamos de regenerar as células... As marcas permanecerão sempre, pois, infelizmente, somos seres demasiado pensantes para conseguir esquecer . Querida, pensar é das mais lindas características que a espécie humana pode ter, contudo, eu sei que nos traz ao coração a mais profunda e incurável dor.
    O brilho prateado dessa tua lua tem o dever de te iluminar, de te guiar rumo ao cume da tal colina que ainda não foste suficientemente capaz de escalar. Deixa que a tua visão míope consiga ver para além da dor, para além desse "nós", para além de vivências pertencentes a um passado. Deixa que a tua visão míope veja as mais intensas cores, veja os mais diversos caminhos, veja o brilho da Lua todas as noites, veja o verdadeiro sentido da vida...
    Agarra a vida, ama e deixa-te amar, sorri e luta, luta por ti, luta pelo brilho que todas as noites te invade...
    Olha para o teu coração e vê apenas a tua sensibilidade, vê a tua amizade, a tua pureza, vê o teu talento, vê, sobretudo, a fantástica pessoa que és :D

    Um grande beijo e continua a ser a maravilhosa pessoa que todos os dias afirmas ser.

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  2. "Desistir demonstra sempre covardia, mas é também a mais fácil e rápida das escolhas."

    Todas as palavras estão resumidas numa frase.
    Na verdade, talvez não seja covardia, mas a coragem de saber lidar com as situações, encará-las com naturalidade e viver feliz, não pensando no que pode ter acontecido, no que está a acontecer, ou no que acontecerá. Essa é a melhor forma de encarar a vida e serve precisamente para nos tornar criaturas fortes e independentes dos acontecimentos macabros que assombram ou já assombraram a nossa vida.

    I know you're strong !

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