quarta-feira, 26 de outubro de 2011

dormente.

pouco sei dos outros.
pouco sei de ti.
pior do que esse pouco saber é o desinteresse por saber.
pior ainda é não saber que nem sequer estou interessada em saber.
ando, simplesmente.
de um lado para o outro.
a fazer coisas.
atrás dos outros.
a cumprir tarefas.
a copiar os outros.
a acumular dias.
a deixar escapar tempo que me cai dos olhos como lágrimas secas.
neste andar arrastado, quase a cair, com os braços alongados à frente, as mãos viradas para cima e para dentro, numa última esperança de resistência, anseio pelo despertar deste adormecimento de sentidos.

domingo, 23 de outubro de 2011

paradoxal


(...)
Sacrifica-me o ar, que te faz bem,
sente o flutuar dos meus gestos, devagar.
Sufoca-me, inspira fundo o meu ar,
e fita-me entre panos vestidos de azul.

Apodera-se o teu ar do meu pulmão,
e eu encostada como quem não vê,
assisto à tortura de uma saudade fingida,
de uma partida prematura.

Ficas, afinal, pois não sabes partir,
Enquanto eu rezo para que desapareças,
Enquanto eu rezo para que fiques,
Para que fiques enquanto sais.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

melting pot


és a minha mais preciosa memória.
adoro tudo em ti: a tua luz, o teu cheiro, o teu ruído, a infinita sabedoria que irradias. adoro até o caos que pareces trazer sempre contigo.
de eterna beleza és senhora, apesar dos robustos e longos braços com que intimidas o tão pequeno bicho-da-terra que somos. de tocha flamejante nos recebes, iluminando os olhos daqueles que em ti anseiam encontrar ostentoso fado.
para mim, és a mais linda de todas, pois és o porto seguro de almas sonhadoras como a minha que, não estando contigo, nada mais fazem do que vaguear neste espaço despido. e é assim que me vejo, perdida e desamparada, quando em vez de imersa nas ondas sonoras que te atravessam, me encontro sozinha no chão surdo-mudo do meu quarto.
não és perfeita, Nova Iorque. mas és para mim o mais belo arco-íris na terra de Homens que o querem destruir.

sábado, 15 de outubro de 2011

Habituada.


23 horas.

oco é o eco que me invade. eco oco que desassossega as minúsculas partes de mim que já nada sabem; não sabem se sentem o que dói ou se só olham para quem não sofre. prendo-me ao nada que é o meu existir, a esta incómoda letargia que me leva ao mais alto expoente de loucura. louca!,sim!, pois bem sei que se trata de uma letargia aparente, falaciosa, que encobre o ser dançante em que me metamorfoseio nas horas de lucidez.
como é fácil abominar as máscaras de outrem, quando julgamos não possuir uma. será a minha essência uma mera miragem ou terá ela apenas preguiça de gritar?