segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

1+1=1+1

(...)
repara: nós não pertencemos um ao outro.
para além de ser errado, impossível, é também algo extremamente ilógico, tal como o é esperar obter uma mistura homogénea de água e azeite. quero eu dizer com isto, amor, que eu e tu somos algo imiscível; o teu corpo repele o meu, a tua respiração rouba-me o ar, o teu cheio é o meu vazio.
descansa, no entanto, pois a culpa apenas a mim me cabe albergar... é que eu e o Amor também somos imiscíveis, amor. não parece haver em mim capacidade de o acolher, de o impregnar no meu corpo, mente, coração e, por isso, nunca serei capaz de te aquecer a alma. enquanto caminhares pelos teus trilhos seguros, eu estarei do outro lado do mundo, ainda que só em mente, envolvida nos meus tristes solilóquios e devaneios aos quais me tenho vindo a habituar.

por isso peço-te, já de voz rouca e com o corpo a tremer de frio, que não voltes a esquecer os teus olhos nos meus. não há nada mais doloroso que, neste frio de Inverno e de coração, sentir o calor somente fugidio do teu afecto, o fogo-fátuo que é o teu amor, que sei nunca vir a possuir.




quarta-feira, 30 de novembro de 2011

(...)

hoje fui contra o futuro traçado por outros. hoje fui bailarina. hoje fui feliz.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

eu sorrio.

"Há muito tempo que não te vejo sorrir."
Parvoíces. Sorrio tantas vezes.
às vezes faço-o simplesmente porque esta coisa de tentar convencer-me a mim mesma que a vida é cor-de-rosa, os passarinhos palram lá fora e que ainda existem homens que não gostam de futebol, sabe bem; outras vezes faço-o por constrangimento, simpatia e a maior parte das vezes para evitar a incómoda pergunta "Estás bem?". por isso, sorrio sempre.
desviar os olhos é também uma boa estratégia. evitar os nossos "espelhos da alma" permite-me muitas vezes jurar a certeza da mentira. ("Está tudo bem, a sério").
quando pressinto que a minha carapaça, que não gosto de classificar como 'frágil' mas sim 'crocante', está a uma simples pergunta de distância de se partir em pedacinhos, chego mesmo a evitar o contacto com as pessoas. evito o toque, o diálogo, o calor, o cheiro que muitas vezes me faz lembrar o que me falta.
hoje tive um dia terrível. "Triste de quem é feliz!"," disse-me ele hoje. não podia estar mais de acordo. eu realmente só vivo porque a vida dura.






quarta-feira, 9 de novembro de 2011

(...) II

hoje senti uma enorme vontade de não existir. de não viver neste mundo, mesmo que não saiba bem o que isso significa... não gosto de estar aqui, não gosto de ser quem sou.
o meu caminho aqui na terra é tão delineado como um borrão de tinta que estraga uma bela peça de arte. não sei o que faço aqui. já julguei saber, mas falta-me sempre talento para o que ambiciono. ou talvez a preguiça impere. não sei. só sei que acordar tem sido quase como uma sentença de morte, porque bem sei que será apenas mais um dia em que, mais uma vez, me sentirei medíocre.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

(...)

No artifício dos teus gestos
Pensas abraçar o mundo
Quando nem por um segundo
Te abraças a ti mesmo

E assim vais vivendo
E assim andando aí
E assim perdendo em ti
Tudo aquilo que nunca foste...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sem dor


desçamos, então, ao nível do louco. deixemos cair copos, partamos vidros com os pés. contemplemos, depois, a nossa obra, deixando o estrondo dos estilhaços quebrar o mutismo de quem já nada tem a dizer.
vamos rir-nos como loucos. entreguemo-nos à ridicularidade de gargalhadas barulhentas, espalhafatosas, aparentemente despropositadas que nos fazem doer a barriga. olhemos um para o outro, já libertos e descalços, enquanto os nossos pés sangram numa dor que não sentimos.
deixemos de ensaiar a conveniência dos sorrisos e fechemos as portas à doença à qual eu chamava de amor. abracemos antes a felicidade dos abençoados com loucura, que não sentindo amor, também não sentem dor.






quarta-feira, 26 de outubro de 2011

dormente.

pouco sei dos outros.
pouco sei de ti.
pior do que esse pouco saber é o desinteresse por saber.
pior ainda é não saber que nem sequer estou interessada em saber.
ando, simplesmente.
de um lado para o outro.
a fazer coisas.
atrás dos outros.
a cumprir tarefas.
a copiar os outros.
a acumular dias.
a deixar escapar tempo que me cai dos olhos como lágrimas secas.
neste andar arrastado, quase a cair, com os braços alongados à frente, as mãos viradas para cima e para dentro, numa última esperança de resistência, anseio pelo despertar deste adormecimento de sentidos.

domingo, 23 de outubro de 2011

paradoxal


(...)
Sacrifica-me o ar, que te faz bem,
sente o flutuar dos meus gestos, devagar.
Sufoca-me, inspira fundo o meu ar,
e fita-me entre panos vestidos de azul.

Apodera-se o teu ar do meu pulmão,
e eu encostada como quem não vê,
assisto à tortura de uma saudade fingida,
de uma partida prematura.

Ficas, afinal, pois não sabes partir,
Enquanto eu rezo para que desapareças,
Enquanto eu rezo para que fiques,
Para que fiques enquanto sais.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

melting pot


és a minha mais preciosa memória.
adoro tudo em ti: a tua luz, o teu cheiro, o teu ruído, a infinita sabedoria que irradias. adoro até o caos que pareces trazer sempre contigo.
de eterna beleza és senhora, apesar dos robustos e longos braços com que intimidas o tão pequeno bicho-da-terra que somos. de tocha flamejante nos recebes, iluminando os olhos daqueles que em ti anseiam encontrar ostentoso fado.
para mim, és a mais linda de todas, pois és o porto seguro de almas sonhadoras como a minha que, não estando contigo, nada mais fazem do que vaguear neste espaço despido. e é assim que me vejo, perdida e desamparada, quando em vez de imersa nas ondas sonoras que te atravessam, me encontro sozinha no chão surdo-mudo do meu quarto.
não és perfeita, Nova Iorque. mas és para mim o mais belo arco-íris na terra de Homens que o querem destruir.

sábado, 15 de outubro de 2011

Habituada.


23 horas.

oco é o eco que me invade. eco oco que desassossega as minúsculas partes de mim que já nada sabem; não sabem se sentem o que dói ou se só olham para quem não sofre. prendo-me ao nada que é o meu existir, a esta incómoda letargia que me leva ao mais alto expoente de loucura. louca!,sim!, pois bem sei que se trata de uma letargia aparente, falaciosa, que encobre o ser dançante em que me metamorfoseio nas horas de lucidez.
como é fácil abominar as máscaras de outrem, quando julgamos não possuir uma. será a minha essência uma mera miragem ou terá ela apenas preguiça de gritar?




terça-feira, 27 de setembro de 2011

espaço.



percorremos o mesmo espaço, seguindo trajectórias rectas, paralelas, intocáveis. circulamos na mesma esfera e, para teu desagrado, acabas sempre por me encontrar. quando tal acontece, alteras rapidamente a tua rota e desapareces a um passo ritmado, acelerado, enfurecido. já eu, ingénua habitual, fixo-me em ti e deixo que me alteres os passos.

não me culpes pela minha existência. não fui eu... deve ter sido escrita por alguém que quis virar uma página pesada e decidiu, loucamente, pôr-nos na mesma esfera. terrível infortúnio, pois agora somos como copos vazios e andamos neste resto apagado... vagueamos aqui, quais cegos incuráveis, suprimindo obstáculos que, em vez de nos darem liberdade, nos conduzem ao fastio, ao desregramento, ao nada.


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

meu amor.

O amor é uma coisa estranha de descrever. apesar de fácil de se sentir, falar sobre ele acarreta, quase sempre, algum constrangimento e confusão.
para mim, o amor é como se fosse um pedaço de sabão na banheira - se o apertarmos, ele escapa-nos das mãos. não é mau de todo se nos agarrarmos a ele, mas se o fizermos, corremos o risco de deturpar o seu verdadeiro significado, pois assim, o amor passaria para o domínio da obsessão, possessão.
também não nos devemos deixar invadir por ele levianamente, pois aí o amor daria lugar à superficialidade.
dada a sua complexidade, o amor requer racionalidade, estudo prévio. transcende o estatuto de paixão, pois já não basta deixarmo-nos conduzir pelos nossos desejos mais humanos e, por isso, meramente carnais.
amar é bom. mas amar, muitas vezes, dói.
é preciso coragem para amar.
tenta sentir isto: amo-te.
Faz algum sentido ?


domingo, 31 de julho de 2011

(in)sane


mergulho na solidão confortável do meu quarto. alheia a todas insolências, gritos, imposições, penso no quão cinzenta é a minha existência. seria tão mais fácil acabar com tudo isto. ceder ao desespero que me leva, loucamente, a chamar por Ti (sempre sem resposta).
A verdade já vai tão longe e eu estou tão... cansada. Cansada de só ser capaz de encontrar miseráveis aproximações de uma verdade inexistente que me tira horas, dias, anos de vida; cansada desta névoa que teima em ocultar-me tudo o que precisava de saber para não cair sempre no mesmo buraco, sempre com a mesma cegueira e ingenuidade.
e por isso me odeio: sou tão fraca, submissa, miserável, humana.

terça-feira, 19 de julho de 2011

"Porfia"


"Porfia" é um vídeo inteiramente elaborado por nós, sendo o resultado de várias emoções que nos controlam, permanentemente, no tormento de querermos ser mais num mundo restrito como este.
Os contornos do abstracto envolvem-nos na sua escuridão, e nós neles nos perdemos.

" O meu mundo não é como o dos outros,
Quero demais, exijo demais,
Há em mim uma sede de infinito,
Uma angústia constante que nem eu mesma compreendo,
Pois estou longe de ser uma pessimista;
Sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada,
Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... Sei lá de quê!"

quinta-feira, 9 de junho de 2011

painful memories

Inspiro. Expiro. Respiro.
abstenho-me do soluçar involuntário, retenho a respiração. deambulo, interrogo-me acerca das razões que ainda me levam a pisar este chão. inadvertidamente, penso logo em ti. sopeso todos os nossos restos, as nossas memórias. é um orgulho difícil de despir, este orgulho que dissemina o ódio em nós. foi sempre ele o culpado da incomensurabilidade das nossas distâncias; foi sempre este orgulho medonho que me proibiu de chegar até ti.
agora já é tarde demais. já perdemos o tempo, já saímos do retrato da moldura. agora espezinhas tudo o que de mim advém, reparo no teu olhar agora embevecido em escárnio. odeio tudo isto, odeio saber que ainda penso um bocadinho em ti, apesar de todas as chagas que deixaste por sarar. gostava que a minha mente te largasse, que deixasse esta actividade frenética de me conduzir até ti. É que...
Eu quero tanto deixar-te partir,
Eu quero tanto deixar-te partir,
Eu quero tanto deixar-te partir,
Tão cega que sou. eu queria mesmo era que voltasses. que voltasses tu e que trouxesses contigo a pureza genuína espelhada no nosso retrato. que deixasses a luxúria e que desistisses desse jogo de interesses que sempre que te rodeia.
é tão impossível e a minha pequenez dilacera a réstia de esperança. gostava que retrocedesses, considerasses, voltasses.
É que eu ainda penso tanto em ti.

domingo, 22 de maio de 2011

fading silhouette

é tempo de deixar as roupas moldadas, essa invasão da esfera de outrem. Cinge-te à tua, só desta vez, por mais desengonçada que te pareça. É que eu já nem quero saber se há limite para a desilusão humana. Desta vez, não serei a Tua cobaia.


"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia. "
José Saramago.


sábado, 14 de maio de 2011

masks

não é cansaço. é esta insanidade que me entranha o pensar. é o mundo às avessas, este baile de máscaras em que vivemos. somos clones invisuais, dispersos, dependentes, atraídos pela futilidade tal como o pólo norte atrai o pólo sul. fugimos dos nossos problemas como quem recebe ameaça de morte. fazemos promessas apenas para aliviarmos aquela consciência inoportuna que não nos deixa dormir. trocamos sangue por ouro, vida pela morte, do quão gigantesco é o nosso ego e por amarmos tão infinitamento algo tão ... finito.




não, não é cansaço, senhores professores. é este existir absorto, alheio, insípido. é este caminhar sob arestas vivas que me trincham os pés. é este o meu estorvo, este empecilho que não me deixa pensar.




domingo, 8 de maio de 2011

5 a.m

Aperto na garganta. Dói tanto!, lacrimeja a visão. Grito inaudível, gemido envergonhado de quem já ultrapassou a Razão. Esperança imunda que imunda te faz. Resumes-te a um corpo dorido mas dúctil que jaz no chão do teu quarto. Serpenteias a carne, que já é de outrem. Ai, pele que queima, mas que alivia, pois a esperança perde-se na combustão do teu movimento. Dor agridoce. Tanto queres ser e tão pouco és, afinal. Reflexo diaclasado que mancha aqueles de quem procuras aprovação. Tic-toc. Insatisfação sedenta de respostas. The more you look, the less you see. Cravas a unha que, num jeito frustrado, te marca a pele.


Pontinho pensante, coração pulsátil, mente rejubilante. Se isto fosse o começo, apenas chegarias um segundo antes de serem ouvidas as doze badaladas.



Eu já não faço sentido.






















quarta-feira, 27 de abril de 2011

27/04/2011

After I was born
They locked me up inside myself
But I left.
My soul seeks me,
Through hills and mountains,
I hope my soul
Never finds me.

mas o Nosso sangue é assim... imiscível.

sexta-feira, 25 de março de 2011

sisterhood


"Because I just can't find the strength to pull you up
And keep you taut... "
Imogen Heap

quarta-feira, 9 de março de 2011

Ballerina

Roda, bailarina,
Que o teu corpo é pena,
E a tua alma, ainda que pequena,
Ainda te pulsa nas veias.

Roda, bailarina,
Que o teu cansaço,
Não físico, mas do mundo,
São semifusas no teu corpo.

Roda, bailarina,
Metamorfose de felina,
Devora o ódio do preconceito,
Que esta liberdade é tua, mas repentina.

Roda, bailarina,
Transpira os receios e a amargura,
Tira a tua máscara, quebra a rotina,
Que esta é a tua única paixão que perdura.

Roda, bailarina,
Cega mas precisa,
Que a melodia é companheira,
E a solidão não é juíza.

Oh, bailarina,
Cujo mundo é uma utopia,
Cerra os olhos e regressa,
Onde o palco só a ti te pertencia.


Catarina Marques, 09/03/2011