quinta-feira, 11 de novembro de 2010

what have we done to the world?

Queria mudar o mundo e por isso levantei-me para me observar ao espelho e para reflectir sobre o que deveria fazer. Estava diferente naquele dia, estava zangada. Os meus olhos estavam demasiados negros e vazios, inalteráveis. Suplicando por ajuda e pretendendo exorcisar a maldição daquele dia, o meu reflexo gritou-me "O tempo escasseia, Catarina". Tic-toc... Eu sabia ao que ele se referia. A Terra parecia doente, como se não houvesse curita que pudesse estancar os seus ferimentos. Crianças esfomeadas, nações divididas por falta de confiança, guerra, morte... E contemplando-me ao espelho, contemplava o que não via, procurava respostas indecifráveis. No fundo, sentia-me como o meu reflexo e o pânico começava a percorrer as minhas veias.
Teria de fazer alguma coisa e o meu reflexo assegurou-me de que iria encontrar pessoas predispostas a solucionar o mesmo problema que eu, o problema da Humanidade. Já de noite, vislumbrei, satisfeita, o meu reflexo no espelho; a minha expressão estava já mais suave e serena.

Desfolhei livros e enciclopédias, discuti com pessoas influentes e poderosas, procurando ajuda e cooperação. A minha ingenuidade acabou , como sempre, por me atraiçoar. Para algo dar certo é necessário que todos façam a sua parte e não é assim que os humanos funcionam... há que desistir quando a corda asfixia um bocadinho o pescoço.
Revoltada, fixei o meu olhar gélido e a minha boca cerrada. O meu reflexo havia ficado desmotivado e tinha um ar confuso; "Secalhar não vale a pena, Catarina. Mas tu vais ficar bem, o teu futuro ainda está garantido", disse-me. Estranhei-me, naquele momento, havia algo de muito errado. Quem era aquela pessoa a olhar para mim? O meu reflexo não era eu. Estava separado, no outro extremo até. O meu reflexo via os problemas lá fora mas desde que esses problemas não me afectassem directamente, estaria tudo bem. Mas eu não era assim e não sinto as coisas dessa forma.
Esses problemas não são exteriores, não são de outros. São meus, nossos, e eu sinto-os dentro de mim. Sinto a criança chorosa na Etiópia, sinto o sofrimento das focas, sinto a captura do gorila e sinto o soldado adolescente que treme de terror.
Agora sei que, da próxima vez que me olhar ao espelho, o reflexo já estará desvanecido. Será uma imagem e apenas reflectirá um ser vivo embrulhado num saco de pele e ossos. A minha alma e consciência, resguardo-a com cuidado num sítio só meu. E mesmo que a minha alma vá sendo dilacerada pela dor da vida, sei que a alegria de viver encarregar-se-á de juntar os bocadinhos, pois a vida é o curandeiro da própria vida.

6 comentários:

  1. mais um blog extremamente bem escrito para eu ler? (thumbs up)
    puxa, não terei tempo para todos!
    PARABÉNS, porque é essa a atitude que temos que ter perante o mundo.
    nunca te conformes!!
    mia

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  2. Catarina Marques.
    Sim é a ti que me refiro.
    É este o nome que está gravado algures no meu coração. É este o nome que me faz esboçar um sorriso quando o pronuncio. É este o nome que me faz brilhar ao dizer "é minha amiga".
    É um orgulho enorme poder todos os dias olhar para alguém como tu, olhar para alguém com uma força do além, uma força que nos encoraja a nós que contracenamos contigo na história da tua vida. Rininha, tal como te invoco muitas vezes, é isto mesmo (o que escreveste) que todos temos de seguir. A alegria da Vida, a alegria de Viver, o orgulho de poder dizer "eu vivo", a satisfação de posso uma vida, a nossa vida, tudo isto deve fazer parte do nosso dia-a-dia, mesmo quando existe um fantasma por perto.
    Querida, é com muito orgulho que hoje olho para ti e constato que foi a tua vida que curou a tua própria vida e, hoje, sorris de novo. As tuas gargalhadas são das melhores sinfonias para os meus ouvidos, o teu brilho constante é uma das luzinhas que me ajudam a percorrer o caminho da Vida todos os dias. Obrigada por tudo, obrigada por seres quem és, obrigada por sorrires de forma tão nobre e pura, obrigada por viveres a tua Vida da forma que vives <3

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  3. É assim mesmo a vida, dura e cruel, quantas vezes injusta.
    mas é nossa e temos que leva-la como podemos, seguindo do nosso jeito, na direcção dos nossos sonhos.
    Ser feliz é também preocupar-se connosco próprios.

    beijinhoos (:

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  4. Simplesmente TEU... simplesmente um texto MUITO FIXE... Gostei...
    Keep it up:)

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  5. Olá, Catarina!
    Fiquei duplamente contente por teres criado um blog. Por um lado, faz bem verbalizar os sentimentos e as emoções, no fundo, tudo quanto somos e temos. Por outro lado, é um privilégio para todos os teus amigos poder conhecer-te ainda melhor através das tuas palavras, pois escreves muito bem e com arte.
    Catarina, tu és especial por muitas razões. Em primeiro lugar, porque tens um coração bom e do tamanho do mundo capaz de pensar de forma altruista, como se vê no teu texto. Em segundo lugar, porque não te limitas a sobreviver mas tentas viver com entusiasmo e em plenitude. Em terceiro lugar, porque tens uma consciência recta e bem formada. Em quarto lugar, porque és inteligente e sabes pensar e ter opinião. Em quinto lugar, porque és linda interior e exteriormente. Em sexto lugar, porque tens talentos inumeráveis (dança, guitarra, escrita, etc). Em sétimo lugar, porque consegues resistir às adversidades, mesmo que causem sofrimento. Em oitavo lugar, porque levas a sério tudo tudo em te metes e és humilde e lutadora. Em nono lugar, porque és responsável e empenhada nas tuas obrigações. Em décimo lugar, porque és pura, transparente, sincera e és uma verdadeira amiga.
    Catarina, não desistas de lutar por aquilo em que acreditas. Continua a colocar a fasquia alta e a ter sonhos nobres. Faz o favor de ser feliz e sorri. Sorri muito para encarares a vida com mais confiança, optimismo e esperança!
    Um abraço amigo! E conta comigo sempre!
    Paulo Costa

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  6. O teu altruísmo é uma das milhões de razões que explicam o porquê de seres tão especial e tão importante para mim. O texto está óptimo e espero que continues, fiquei com vontade ler muitos mais.

    /your bestie

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