sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

grey


o céu é cinzento.
a areia é cinzenta.
o oceano é cinzento.
e eu, de olhar vazio e cabelo desalinhado, percorro esta avenida.
'quem me dera estar descalça', penso, pois gostava de sentir o frio das pedras da calçada nos pés. imagino como será poder sentir este frio de inverno, o esvoaçar dos corpos que passam e o calor de um beijo. como será simplesmente sentir? não me perguntem a mim, que eu apenas assisto à passagem do tempo. já não sei sentir, o meu corpo é agora minúscula partícula dormente num mundo imenso que me engole em tamanho.
alheia às caras que cruzo, não lhes vejo a alma. estou sozinha com o meu pensamento, e ainda não encontrei o caminho de volta a casa.




















o céu é cinzento.
a areia é cinzenta.
o oceano é cinzento.
e eu, de olhar vazio e cabelo desalinhado, percorro esta avenida que é o meu ser.
'quem me dera saber quem sou', penso, já cansada de dezassete anos de busca. imagino como será defender um forte ideal, embarcar numa perigosa aventura e viver um grande amor. como será simplesmente viver? não me perguntem a mim, que eu apenas sou uma espectadora da minha própria vida. já não sei viver, o meu suporte de existência é já só um minúsculo coração pulsátil, que a vida se vai encarregando de desacelerar.
a avenida está atulhada de gente, seres antagónicos que julgava ser impossível reunir no mesmo lugar. e o pior é que todos eles fazem parte de mim, dão consistência ao que sou. no entanto, nenhum deles me define, são casas sem tecto, livros abertos, faces sem rosto. ainda não encontrei o caminho de volta a casa.






Sem comentários:

Enviar um comentário